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EMPRESA ESG: ENTRE O “QUERER” E O “SER”, UM CAMINHO A SER TRILHADO Parte I – Afinal, por que ser ESG?

EMPRESA ESG: ENTRE O “QUERER” E O “SER”, UM CAMINHO A SER TRILHADO Parte I – Afinal, por que ser ESG?
Gustavo Gois
mar. 26 - 9 min de leitura
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         ESG - Environmental, Social, Governance. Esta sigla transformou-se em um verdadeiro princípio norteador no mercado financeiro nos últimos meses. De pequenos empreendimentos de impacto, passando por grandes bancos, fundos de investimento e chegando ao mercado de ações, todos querem ser ou investir em empreendimentos ESG.

         Muitos atribuem esse movimento à crise global criada pela pandemia de COVID-19, já que esta veio causar um “tsunami” econômico, com perda sensível de valor das empresas, quedas históricas do PIB de todos os países, desemprego, retração recorde no consumo, rompimento de cadeias econômicas globais, além, é claro, da tragédia humanitária causada pela perda de centenas de milhares de vidas.

          Com tal situação absolutamente inusitada e inesperada, o senso de solidariedade, comprometimento com a sociedade, imagem junto a stakeholders, benemerência e filantropia passaram a ter sentido de urgência na postura de empresas e investidores.

          Mas afinal, o que seria ESG? Quando uma empresa ou empreendimento podem ser enquadrados ou usufruir desse “selo”? Basicamente, fazendo uma tradução literal, ESG são iniciativas ou atividades que atentam-se ao meio ambiente, social e governança, ou seja, negócios ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e honestos (liderança equitativa, controle de riscos e complience, garantia de acionistas, entre outros).

            O presente artigo tem o objetivo de expor a evolução histórica do conceito ESG, razões econômicas e mercadológicas da importância dele para a economia global, as diversas modalidades que ele pode ser exercitado, produção de resultados econômicos de projetos e formas de estruturação de projetos.

            Além disso, em especial, vislumbramos nessa nova forma de atuação corporativa uma consolidação de diversos movimentos empresariais cristãos, que entendem ser as empresas canal de transformação da humanidade mediante uma atuação ética, responsável ambientalmente e com senso de responsabilidade frente aos desafios sociais enfrentados no mundo inteiro

            Pelo fato do conteúdo ser denso e extenso, optou-se por dividir em três partes, sendo esta a primeira.

1-) EVOLUÇÃO HISTÓRICA:

            Inicialmente, é importante destacar que ESG não é um conceito que nasceu no meio ou em virtude da pandemia global da COVID-19. Na verdade, ESG é um conceito que resultou de uma evolução histórica sobre a função social e papel das empresas no cenário social e ambiental.

           Um dos primeiros grandes pensadores a analisar essa questão foi Andrew Carnegie, fundador da U.S Steel, em 1899, nos Estados Unidos, que publicou “O Evangelho da Riqueza”[1], lançando a tese do princípio do zelo, que estabelece que as empresas e os ricos têm seu dinheiro com a confiança do resto da sociedade e podem usá-lo para qualquer finalidade que a sociedade julgar legítima.

            Nos anos 1970, preponderava a visão clássica da estrita preocupação com o retorno sobre o capital empregado do acionista. O grande representante desse pensamento foi Milton Friedman (1977)[2], ícone da Escola Econômica de Chicago, conhecida pelo liberalismo econômico, onde afirma que a empresa socialmente responsável é aquela que responde às expectativas de seus acionistas.

            Nos anos seguintes, especialmente na década de 1980, esta visão foi ampliada, já que se verificou a necessidade de contemplar os retornos além dos dividendos do acionista, dividendos à comunidade e aos empregados. Neste sentido, Peter Drucker (1981)[3], “Pai da Administração Moderna”, examina a responsabilidade social como uma área onde a empresa decide qual será seu papel na sociedade, estabelece seus objetivos sociais, suas metas de desempenho e de influência na sociedade onde estão inseridas.

           Nos anos 1990 até o presente, esta visão continuou se ampliando e as empresas passaram a buscar o caminho do chamado desenvolvimento sustentável - aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades, que compreende as dimensões econômica, social e ambiental, dimensões estas que passam a ser importantes na composição da estrutura empresarial e de Estado.[4] Tal divisão foi elaborada por John Elkington[5] e é conhecida por Triple Botton Line, ou 3 Ps (People, Planet, Profit) ou, traduzindo-se para o português, PPL (Pessoas, Planeta, Lucro).

2-) POR QUE SER ESG?

            O mercado tem identificado nas empresas ESG um modelo de negócio competitivo para o futuro, já que, as práticas vão ao encontro de valores que se tornarão padrão de conduta. Desta forma, as empresas ESG são um “porto seguro” a longo prazo, já que considera-se que sua perenidade é muito mais provável do que outras que não têm os mesmos valores.

            Outra grande preocupação dos agentes financeiros refere-se à deterioração de sua imagem caso seja atrelada a práticas ambientalmente incorretas, socialmente injustas ou de desvios de conduta. O investimento em empresas ESG minimiza em muito o risco de isso ocorrer, o que valoriza as boas práticas de tais corporações.

            Consumidores tendem a ser muito mais fiéis a empresas ESG, tendo em vista o valor agregado ao produto. Inclusive, a relação de consumo não se limita a qualidade e preço, já que estes estão dispostos a pagar mais em relação a produtos similares, pois compreende-se que a aquisição gera impacto em cadeia do ponto de vista ambiental e social.

            O resultado desse entendimento gera valores expressivos. Em seus primeiros comentários desde que foi nomeado em abril, Eiji Ueda, CIO do Fundo de Investimentos em Pensão do Governo do Japão, o maior do mundo com 1,5 trilhão de dólares em ativos, afirmou que “nas eras ‘com corona’ e ‘pós corona’, o investimento em ESG ficará cada vez mais importante”. Em março, final do ano fiscal japonês, o referido Fundo detinha 54 bilhões de dólares em índices ESG e quase 4 bilhões de dólares em títulos verdes (Green Bonds). A tendência é que o Fundo aumente suas posições em investimentos com preocupações ambientais, sociais e de governança.

             Analistas da agência de classificação Moody’s, em relatório divulgado no dia 13/04/2020, afirmaram que cada vez mais “considerações ESG sejam de crescente importância em nossa avaliação da qualidade de crédito do emissor”. A Moody's citou os riscos ESG como fator relevante em 33% das 7.637 decisões de classificação do setor privado publicadas em 2019, o que a levou a rebaixar a nota da dívida sênior da Ford Motor em setembro, porque o portfólio de produtos deixou a montadora vulnerável à possibilidade de altas multas por emissões em 2020 e 2021.

            Resumindo, ser ESG potencializa o recebimento de investimentos já que reduz o risco, fideliza consumidores e proporciona a perenidade da empresa no longo prazo.

            Do ponto de vista Cristão, o movimento ESG vem a comprovar e consagrar o que Jesus afirmou em Lucas 6:38ª - “Deem e será dado a vocês: uma boa medida, recalcada, sacudida e transbordante será dada a vocês” – assim como o Apóstolo Paulo ao citar ensinamento de Cristo em Atos 20:35: “Em tudo o que fiz, mostrei a vocês que mediante trabalho árduo devemos ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: 'Há maior felicidade em dar do que em receber'”. Talvez finalmente as empresas tenham percebido que a generosidade resulta em credibilidade e, consequentemente, ganho efetivo de valor no mercado.

            Na segunda parte do artigo abordaremos as diferentes formas de atuação em projetos socioambientais para que a empresa seja caracterizada como ESG.

Gustavo Gois atua há 19 anos na área do Direito do Terceiro Setor e consultoria na elaboração e execução de projetos socioambientais.

 


[1] CARNEGIE, Andrew. The Gospel of Wealth Essays and Other Writings. Londres: Penguin, 2006.

[2] FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e Liberdade. São Paulo: Arte Nova, 1977.

[3] DRUCKER, Peter F. Fator humano e desempenho: o melhor de Peter F. Drucker sobre administração. São Paulo: Pioneira, 1981.

[4] AUTOR, 2008

[5] ELKINGTON, John. Cannibals with Forks: The Triple Bottom Line of 21st Century Business. 1. Ed. Ed. Oxford: Capstone Publishing Ltda, 1999.


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